Eram três horas da madrugada e bateu-lhe uma insônia F... da P... Vira pra cá, vira pra lá e nada de adormecer. Olhou para o lado e lá estava ela, profundamente adormecida: imóvel e ressonante. Parecia que tinha abandonado o corpo físico e flutuava em seu etéreo.
“Nada incomum”, pensou ele. Era habitual esse “desligamento” que ela conseguia. Ele, por sua vez, um permanente e insistente idiota. Assim o definiam alguns amigos e conhecidos.
-Preocupas-te demais, o pá!
Assim o premiavam de comentários e diagnósticos seus mais chegados conhecidos.
Mas o que importa dizer é que lá estava ele, de novo, insone.
Decidiu levantar-se e arranjar ocupação geradora de cansaço e sono. Iniciou por um chazinho de camomila. Acompanhou com um biscoitinho de leite, um pouco de manteiga e até uma geleia de frutas vermelhas. “Hum! Que delícia.” Valeu à pena esta insônia que tivera.
Para despreocupar-se com a hora, resolveu ligar a televisão. Com controle remoto na mão, clicou para frente e para trás. Nenhum programa o atraía. Parecia uma programação escolhida para ocupar os insones idiotas, tais como ele que se sentia assim, naquele momento. “Não é possível que escolham programas tão ruins e até inconvenientes!”, refletiu em voz alta, como se alguém pudesse escutá-lo. “Será que os programadores de televisão acreditam que os telespectadores destes horários não possuem inteligência?”
Programas do tipo XXX, mais conhecidos como “pornô”, são comuns neste horário. Decerto deviam ser dirigidos aos tais “idiotas insones”. Sim, porque não servem para despertar romantismo ou funcionar como afrodisíaco. Quem será que sente mais “predisposição”, assistindo a casais homossexuais trocando carícias? Ou então imensas obesas falando como são felizes comendo, ao invés de “comer”?
Tudo isto lhe vinha à mente com frequencia. Surpreendeu-se, ao perceber que estava absorto em pensamentos analíticos, críticos e vorazes, num ato de extrema revolta por sua insônia insistente e implacável.
-Pô! Será que tenho que tomar um sedativo para voltar a dormir?
Pensando assim, dirigiu-se ao banheiro para pegar o comprimido, mas não sem antes dar uma espiada no quarto e constatar que lá estava ela profundamente adormecida. Quase imobilizada. Na mesma posição que a deixara há mais de duas horas.
Escolheu o comprimido, engoliu-o em um só gole de água e voltou à sua cadeira na cozinha. Continuavam os programas idiotas na televisão e já se percebia uma luz tênue de amanhecer surgindo. Adormeceria? Talvez.
Como em passe de mágica, surgiu como um foguete, junto ao portão de sua casa, uma mulher belíssima, pedindo informações sobre uma casa para alugar. Papo vem, papo vai, ele a convidou para entrar, oferecendo um delicioso café com biscoitos amanteigados.
A bela mulher explicou que estava procurando uma nova casa para alugar, porque tinha se separado do marido fazia uns 30 dias. Procurava um local bucólico e tranquilo, talvez para esquecer suas desavenças na vida conjugal.
Ele escutava toda aquela estória, com o máximo de atenção, querendo saber cada detalhe das explicações da bela mulher. A conversa já caminhava para aspectos pessoais e íntimos, dando a entender que a mulher estava, de fato, fragilizada com a recente separação.
O homem não percebeu o passar das horas. Entretanto, de repente, quem aparece na sala de “baby–doll” bem curto e ainda com o rosto cheio de marcas do travesseiro? Era sua esposa que, diante da cena, não entendia nada: por que, sendo pouco mais das 7:00 horas da manhã, uma mulher toda maquiada, conversava com seu marido? Este tinha um semblante bastante atento às ponderações da mulher recém chegada.
Aí aconteceu o inesperado (ou talvez não): a esposa pedia explicações à mulher, perguntando o que ela estava fazendo àquela hora da manhã em sua casa etc etc etc.
Foi difícil explicar, com detalhes, o que, de imediato, era inexplicável. O marido imediatamente interrompeu o interrogatório de sua esposa e tentou apresentar as verdadeiras razões da presença da bela mulher, em sua casa.
Papo vai, papo vem, as coisas começaram a ficar mais amenas e o próprio marido indicou o local da casa que realmente estava anunciada. A dita mulher foi procurar o proprietário para ver o imóvel.
Após a saída da mulher, a esposa extravasou a fúria contida até então e falou horrores sobre o incidente. Com tato e extrema dose de paciência, o já fatigado marido escapulia, como podia, das investidas da furibunda consorte.
O homem, já atordoado tanto pela beleza da mulher quanto pela situação surgida, começou a sentir o corpo mole e a cabeça pesada. Mal alcançou a cama, caiu em sono profundo. Finalmente, poderia ter recomposto toda tensão (ou talvez “tesão”) reprimida.
Ninguém imaginava que um foguete que surgiu do nada, não levou ninguém em sua garupa, fizesse adormecer aquele “frágil” e “cordial” homem, que queria somente ter um sono tranquilo e profundo. Como ele, tantos insones, sofridos e incompreendidos maridos poderiam se defrontar com uma situação inesperada e, sem mais nem menos, virar notícia como vítimas de crime passional. Essa seria uma forma inusitada de ocupar a atenção de outros insones que, em suas madrugadas despertas, buscam apenas “uma boa noite de sono”.
L.Manuel, J.De Maria e S.Silva
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