28 de jul. de 2012

Tragicômico Triângulo Amoroso

     Durante as nossas vidas, vivenciamos certos fatos que, de tempos em tempos, afloram em nossas mentes.
     Eu tinha onze anos e vivia com minha família em um bairro relativamente novo, simples, em uma pacata cidade do Estado do Rio. Nessa época, eu, ainda menino, considerava a vida muito calma, pois não conhecia violência. Os moradores da cidade pareciam viver em perfeita harmonia, pois todos se conheciam e se respeitavam. Era uma comunidade constituída por pessoas simples, ou seja, nem tão ricos, nem miseráveis.
     Nesse ambiente tranquilo e rotineiro, de repente, começaram a surgir boatos sobre uma jovem senhora, conhecida como Marcela. Ela era bem casada e mãe de um casal de filhos. Dizia-se que ela estava tendo um caso com um rapaz de nome Alberto. Em pouco tempo, passou-se de boato para caso confirmado. A estória se espalhou por toda a comunidade. Imagina que bomba! O povo, nessa época, era muito conservador, e qualquer mulher que saísse do trilho era execrada porque, apesar de toda camaradagem que existia, o molho estava perfeito para os fuxiqueiros, principalmente as fuxiqueiras.
     Marcela pertencia a uma família muito considerada e o marido, Luiz Carlos, era pacato, trabalhador, excelente pai e, aparentemente, vivia bem com a esposa. Com a dimensão que ganhou o caso, Luiz Carlos começou a demonstrar muita contrariedade – não sabia o que fazer. O pobre coitado andava de cabeça baixa, devido ao peso na testa. Os pais de Marcela fizeram de tudo para que ela criasse juízo.
     Com o passar do tempo, o romance foi ficando escancarado. Apesar de tudo, Luiz Carlos continuava em casa, assistindo os filhos e a infiel esposa, numa incrível passividade. O romance evoluiu tanto, a ponto de Alberto, o amante, passar a frequentar a casa de Marcela. Algumas vezes, os três eram vistos caminhando juntos: Marcela ia de braços dados com Alberto. Luiz Carlos seguia ao lado. Isso aguçava a revolta dos vizinhos fuxiqueiros, que sentiam, ao mesmo tempo, pena e raiva, devido à postura conformada do cornudo Luiz Carlos.
     Alberto foi ficando cada vez mais apaixonado, ciumento, possessivo, não mais permitindo que Marcela olhasse ou falasse com qualquer homem, ainda que fosse antigo conhecido. Se suspeitasse que algum homem estivesse olhando para ela, ficava bravo, agressivo, chegando a arrumar confusão.
     Num belo dia, alguém viu Marcela de papo com um estranho, no início de noite. Nessa época, as ruas do bairro eram mal iluminadas, e ficava fácil alguém ocultar sua identidade. O assunto se espalhou. Não demorou muito para que Marcela fosse, de novo, vista, num recanto mal iluminado, com o tal cavalheiro misterioso. Os fuxiqueiros foram esquentando os boatos a ponto de chegar aos ouvidos de Alberto.
     No dia seguinte, Alberto foi à casa de Marcela para tirar satisfações. Aproveitou o horário da manhã, pois Luiz Carlos estava no trabalho e as crianças na escola. E foi armado com um revolver. Furioso, perguntava à amante por que ela o havia traído. Sua raiva o fez perder as estribeiras e aplicar-lhe uma violenta surra. Em determinado momento, ela bateu com a cabeça na parede e perdeu os sentidos. Quando viu Marcela desacordada, provavelmente pensando que estivesse morta, Alberto pegou sua arma e atirou em sua própria cabeça.
      Os gritos de Marcela sendo agredida, seguidos do barulho do tiro, atraíram a vizinhança que correu para a casa dela. Lá, encontraram Alberto sem vida e Marcela sem sentidos. Poucos minutos depois, Marcela voltou a si e foi levada para o Hospital.
     A notícia da tragédia logo se espalhou pela cidade, tendo destaque no Jornal e na emissora local.
     Quando Marcela se recuperou, contou para família que seu novo amante misterioso era Luiz Carlos, seu marido que, com seu carinho de sempre, conseguiu reconquistá-la porque ela já não suportava mais os maus tratos de Alberto. Como tinham muito medo de que Alberto descobrisse a verdade, vinham se encontrando em segredo.
    Até onde eu pude acompanhar, a reconciliação do casal ia muito bem.
     Eu só não entendo o porquê dessa estória nunca ter saído de minha memória!

Antônio Orlando Respeita

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