8 de nov. de 2009

Fragrância



“Não acredito em nada. Ao mesmo tempo acredito em tudo.”
Clarice Lispector



... em minha aflição, só percebi o entardecer quando senti a intensa ventania que trazia um cheiro cortante, acentuado, mais forte, mais lancinante do que qualquer outro conhecido. Um cheiro que invadiu-me o cérebro, aguçando lembranças; um cheiro de saudade dos dias de prazeres e ilusões que jamais voltariam.
Angustiada, enredava-me em meu passado, tão belo e, ao mesmo tempo, terrível, parte integrante de minha história.
A aproximação da noite, trouxe-me o cheiro peculiar da chuva que, sem nenhum aviso, começou a cair, remetendo-me a lembranças de amores perdidos, de amores-perfeitos, do aroma das rosas e do acre odor dos cravos, causando enorme alvoroço em meus sentidos. Tudo isso condenava-me a uma inoportuna e permanente adolescência.
De repente percebi que não estava mais sozinha, mas rodeada de uma enorme variedade de cheiros; então, perdida no labirinto de minhas fantasias, questionei-me: Para onde tinham ido meus dias de felicidade?
E, se há tanto tempo desaparecidos, porque ainda me doíam?
Não tinha respostas, mas alegrava-me a certeza de que o tempo mais feliz e importante de minha vida estava ligado a uma sucessão de cheiros.
Pude, então, concluir: Agora, minha vida estará centrada numa intensa busca de novas fragrâncias que, um dia reconhecerei como o cheiro do amor puro, do amor simples, do amor inteiro. Do amor como um símbolo de paz, completo em si mesmo.
Lucia Sad

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