9 de out. de 2009

RELEMBRANÇA

                                   
Nas trevas da noite, aguçando memórias,
Ressurge o passado.
Escurecendo a solidão, delineia
O claro das lembranças.
Minha infância. A chácara. Os pés descalços lambendo o gosto do chão.
A doçura das mãos pequenas
Semeadas de carícias. Jardins de ontem.
Todos de mãos dadas. A fraternidade rodopiando em círculo de amor.
Ciranda – cirandinha...
Espaço – tempo – sala;
A mesa forrada de amor maternal
Sustenta frutos e doces
Pra sorverem a nossa fome.
O lustre de cristal
O sino soando ao sopro do vento
Convocando ao rito do afeto familiar.
A moldura do pai – a biblioteca.
Felicidade...
Túnel da memória – angústia;
A morte do pai.
Minha alma desaprende o andar
E me enclausura
Entre irremovíveis paredes
De dor e de medo.
Angústia...
A memória correndo em lágrimas
Pela face estupefata; angústia.
A ciranda quebrada, o desamor;
Os braços fechados em círculo
Em torno da angústia de cada um.
Túnel da memória...
O tumulto das doces e das amargas lembranças
Angústia – Felicidade – Felicidade – Angústia.
Lágrimas.
Sabia por que chorava, mas não o confessava nem a mim mesma.
Não adiantava cerrar janelas e portas
Da casa, do quarto, da alma;
As assombrações da noite invadem tudo
E delineiam, em seu negror,
O riso e a ressuscitada lágrima.

                                                                                            Lucia Sad

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