O umbigo é o primeiro acidente geográfico do corpo humano; ponto de partida. Lago profundo onde se vê a própria imagem; caverna escura onde reside o interior; gruta rugosa de veias que apontam o início de tudo; abismo de onde se emerge.
Eu bati na porta e o rapaz perguntou: “Onde?”– “No umbigo”, respondi: “prefiro prateado”. Eu nunca tinha feito um piercing. Para quê? Fiz para que me vissem, para que eu me visse, para chamar a atenção, para enfeitar a origem, para mostrar meu corpo, para me mostrar, para me garantir na tribo. “Olha eu aqui! Olhem para mim!” Olho no espelho: me vi! Me viram!
Um brinco no destino, brincando com as origens, enfeitando o pertencer à raça humana. Baixei a blusa. Só então abri o foco e vi mais em mim: montanhas, florestas, securas e umidades, picos e planícies, caminhos e descaminhos. Senti pulsar vulcões, terremotos e correntezas submersas.
Aberta a grande angular! Visão total da topografia do meu corpo, onde a cicatriz da vida, certificado de humanidade, era apenas um detalhe.
Há aqueles que só olham para o seu próprio umbigo, sem perceber a abrangência da paisagem à sua volta. São os que só vêem em close... Fotógrafos medíocres.
Luiza Lagôas
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