Que tal sairmos, num fim de tarde, a brisa leve lambendo nossos corpos, os passos compassados num ritmo lerdo, braços soltos num vai-e-vem aleatório. Nos rostos apenas uma expressão serena de quem não está cumprindo nenhum compromisso, não tem hora marcada, nem destino determinado. O céu, por certo, veste seu cenário de cortinas azuis, palco iluminado onde nesgas de nuvens extremamente brancas são jovens bailarinas saltitantes, valsando por entre véus e tafetás.
Ora nos voltamos para os lados, percebendo o clima ameno, os ruídos casuais, os passantes fortuitos, ora nos fitamos intensamente, olhos encarando nossas próprias entranhas, corações ribombando em uníssono. Às vezes vamos parar por alguns instantes, como se tivéssemos esquecido algo que precisasse ser lembrado, como se duvidássemos de nossa inteira disponibilidade de ir adiante, mas em seguida nos voltamos para frente, revigorados, inteiramente entregues ao momento. Nada tumultua nossos pensamentos, cenas vividas não são relembradas, queixas eternas não se repetem, desejos alcançados não se transformam em novas necessidades. Somos apenas nós mesmos, livres, pequenos pedaços de papel escapando pelo espaço, volteando, escorregando, dobrando sobre si, desenvolvendo velocidade e ainda assim retornando ao ponto de partida.
Quando a noite por fim nos alcançar, você me tomará pela mão e eu me perderei nos seus braços, segura e entregue de corpo e alma. Sequer terei tempo de contar as estrelas, ou de me despedir das primaveras, sequer terei vontade de voltar.
Sonia Soares
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