4 de mai. de 2011

O Poeta Sobrevivente

As dores do mundo
Guardadas bem fundo,
Depois do vazio,
Enchem o escuro.

Luzes de Neon,
Luzes piscantes de televisão,
O fazer interminável.
Não sobra tempo
Para chorar o lamentável.

Dobram-se os panos brancos,
Fecham-se as cortinas
Nas esquinas vermelhas.
Oferece seguro recanto
A solidão no coração urbano.
Iguala a tensão nas frontes
O orgulho em todos tirano.

Abre-se o sétimo selo.
O poeta no cavalo branco
Sobre as cidades cavalgando,
Levanta com suas mãos
O machado reluzente.
Violeta e rosa,
A verdade resplandece piedosa:
Amabilidade
Era o último segredo
Na caixa de Pandora.

Ouve-se o golpe,
O estalar dolorido,
Rompe-se a crosta
Almas expostas!

Do fundo escuro
Depois do vazio,
Em cada homem vivo
A erupção transborda.
Cresce a bolha transparente...
Pinga uma lágrima...
Pinga outra lágrima...
Estremecem convulsos
Em soluços, os corpos.
Vomitam a enchente...
Libertaram-se finalmente.

—Foi o segundo dilúvio.
Disse o poeta sobrevivente.


Olívia Feder

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