PEDRA FILOSOFAL
(Segundo a lenda era um objeto que teria sido enviado dos céus por seres celestiais dotada de poderes inimagináveis: poderia aproximar o homem de Deus, efetuar a tansmutação e elaborar o elixir da longa vida.)
Falo eu pela voz da menina que já não fala como nós.
Naquele dia ela acordou na rua, suja e faminta como em todos os outros 4.380 dias de sua vida. Era o dia de seu aniversário e ela completava 12 anos. Sonolenta, remelenta, esfregou os olhos, olhou em volta e não agüentou ver, mais uma vez, a dura realidade que teria de engolir se quisesse continuar viva. Viva para que? pensou. Não queria sentir, ver, ouvir, cheirar, segurar nada do horror que estava ao seu alcance. A menina desejava sonhar, inventar outra vida, viajar para outros mundos! Como? Ela bem o sabia; mas a que preço...
Decidiu pagar. Subiu o morro em busca do homem do crack e suplicou-lhe uma pedra sonhadora. O homem do morro ofereceu-lhe a pedra em troca de carícias íntimas. Ela não tinha dinheiro, ele sabia, assim, estava pronta a pagar seu preço.
Enfim, a pedra era dela e seu desejo se realizaria depois de cheirá-la, lambe-la, acariciá-la, namorá-la, declarar-lhe sua dependência na certeza que ela a resgataria daquela podre realidade e a levaria ao sonho.
A menina caiu no abisma do sono profundo e sonhou: Sonhou com o mar enorme abaixo de um céu cinzento e nublado. Aos poucos se reconheceu sentada num barco – vestida de branco, rosto coberto por um véu – que seguia um destino por ela ignorado, conduzido pelo remo de uma mulher – vestida de preto, rosto coberto por um véu – que, de pé atrás dela, parecia saber muito bem para onde se dirigiam. E a ilha apareceu aos olhos da menina, cercada de brumas, povoada por fadas, reis, rainhas, príncipes, princesas, sapos, gatos, gnomos e de todo um cortejo mágico que a esperava para uma celebração: talvez a dos seus 12 anos.
Já era noite quando aportaram e a mulher de preto, erguendo a mão direita em direção ao céu, trouxe-lhe como presente a lua-cheia e disse-lhe que, a partir daquele momento, a ela pertencia a mais poderosa das pedras brancas: a da fantasia, da realização de todos os desejos ocultos e imaginados e que, de posse dela, a menina seria coroada Sacerdotisa da Lua na festa que a esperava na floresta.
No dia seguinte, os jornais da vida real estampavam a manchete: “Mais uma menina de rua é encontrada morta no matagal, com uma pedra branca na mão, vítima de abuso sexual e over-dose de drogas”.
Over-dose? Over-miséria? Over-agonia? Over-medo? Over-sonho? Over...oque?
Acredito eu que a menina, agora de posse eterna da Pedra da Lua, esteja na festa da ilha junto aos que a esperavam para festejá-la. Mesmo que em sonho. Acreditam quase todos os outros que foi só mais uma menina de rua, vadia e drogada, que morreu de over-dose, tendo ainda nas mãos um resto de pedra de crack.
(Segundo a lenda era um objeto que teria sido enviado dos céus por seres celestiais dotada de poderes inimagináveis: poderia aproximar o homem de Deus, efetuar a tansmutação e elaborar o elixir da longa vida.)
Falo eu pela voz da menina que já não fala como nós.
Naquele dia ela acordou na rua, suja e faminta como em todos os outros 4.380 dias de sua vida. Era o dia de seu aniversário e ela completava 12 anos. Sonolenta, remelenta, esfregou os olhos, olhou em volta e não agüentou ver, mais uma vez, a dura realidade que teria de engolir se quisesse continuar viva. Viva para que? pensou. Não queria sentir, ver, ouvir, cheirar, segurar nada do horror que estava ao seu alcance. A menina desejava sonhar, inventar outra vida, viajar para outros mundos! Como? Ela bem o sabia; mas a que preço...
Decidiu pagar. Subiu o morro em busca do homem do crack e suplicou-lhe uma pedra sonhadora. O homem do morro ofereceu-lhe a pedra em troca de carícias íntimas. Ela não tinha dinheiro, ele sabia, assim, estava pronta a pagar seu preço.
Enfim, a pedra era dela e seu desejo se realizaria depois de cheirá-la, lambe-la, acariciá-la, namorá-la, declarar-lhe sua dependência na certeza que ela a resgataria daquela podre realidade e a levaria ao sonho.
A menina caiu no abisma do sono profundo e sonhou: Sonhou com o mar enorme abaixo de um céu cinzento e nublado. Aos poucos se reconheceu sentada num barco – vestida de branco, rosto coberto por um véu – que seguia um destino por ela ignorado, conduzido pelo remo de uma mulher – vestida de preto, rosto coberto por um véu – que, de pé atrás dela, parecia saber muito bem para onde se dirigiam. E a ilha apareceu aos olhos da menina, cercada de brumas, povoada por fadas, reis, rainhas, príncipes, princesas, sapos, gatos, gnomos e de todo um cortejo mágico que a esperava para uma celebração: talvez a dos seus 12 anos.
Já era noite quando aportaram e a mulher de preto, erguendo a mão direita em direção ao céu, trouxe-lhe como presente a lua-cheia e disse-lhe que, a partir daquele momento, a ela pertencia a mais poderosa das pedras brancas: a da fantasia, da realização de todos os desejos ocultos e imaginados e que, de posse dela, a menina seria coroada Sacerdotisa da Lua na festa que a esperava na floresta.
No dia seguinte, os jornais da vida real estampavam a manchete: “Mais uma menina de rua é encontrada morta no matagal, com uma pedra branca na mão, vítima de abuso sexual e over-dose de drogas”.
Over-dose? Over-miséria? Over-agonia? Over-medo? Over-sonho? Over...oque?
Acredito eu que a menina, agora de posse eterna da Pedra da Lua, esteja na festa da ilha junto aos que a esperavam para festejá-la. Mesmo que em sonho. Acreditam quase todos os outros que foi só mais uma menina de rua, vadia e drogada, que morreu de over-dose, tendo ainda nas mãos um resto de pedra de crack.
Luiza lagôas
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