Julgavam-no acomodado à situação de dono, de rei, de senhor de todas as coisas. Jamais se ouviu falar em possibilidade de sucessor, representante, interino, ajudante sequer. Ele fazia-nos acreditar desnecessário, dada sua conhecida onipotência . Engano tanto de crentes quanto de ateus. Ele estava cansado depois do longo tempo e árduo trabalho que se impusera ,por força de ser Criador, sem, contudo, ter qualquer garantia da perfeição que se propôs conseguir. Passaram-se séculos, povos, crenças, culturas e, de seu posto, ele tentou, sem descanso e com total e antiga certeza de ter o conhecimento verdadeiro e absoluto de tudo .
Ganhou e perdeu muitas vezes; foi forte e foi fraco em tempos de guerra e de paz. O dia em que me procurou, revelava tristeza, cansaço, descrédito até, e falou-me com voz quase de ancião: “Cuida do mundo, enquanto eu sumo um pouco”. E me soprou a vida dos vivos da Terra.
Cheguei sem saber muito bem onde estava, com quem contaria. Ouvi falar em mãe, pai, família – laços de família – e com eles e neles emaranhei-me em carinhos, encantos, tristezas também. Ninguém entendeu-me o temperamento forte, a ânsia de saber, o desejo de pertencer, o não conseguir parar, ter limites, ver barreiras. “Menina esquisita, menina inquieta ,não pára em um lugar, se mete em conversas. Moça difícil; inteligente, mas complicada, antipática, um tanto desajustada. Mulher deprimida, incompreensível, cansada, zangada”. Era mais ou menos assim o que eu ouvia dos que não sabiam que “ sou uma pessoa muito ocupada. Eu tomo conta do mundo. Eu já nasci incumbida”.
Não sei se cumpri meu papel durante o tempo em que, em carne, ossos, músculos e nervos, Ele me deixou entre os humanos; procurei fazê-los entender sua condição, enquanto tentava entender-me, escrevendo, escrevendo, escrevendo. Penso que me saí bem, melhor do que Ele esperara, pois o ameacei, acredito, e ele mandou-me buscar de volta por quem me havia trazido : as dores- do parto e do câncer. Cumpri a missão, deixei um legado e, através da palavra que mais escrevi do que falei, ainda vivo no mundo dos vivos, nem santa nem deusa, mas gente que entende de gente que vive, que sofre, se alegra, duvida, acredita e que morre; que consegue, numa só, ser muitas, por ser humana e mortal.
Ele me chamou de volta antes do tempo devido, acreditam os leitores da espécie de bíblia que ousei escrever.
Desculpo-O e peço ,por Ele ,desculpas ao mundo, pois Nele o homem ainda ausente, impediu o Deus de agir, de viver, de sentir-se à beira de ,vislumbrando e aceitando o que é belo , o que é novo. O velho, o morno e o medo cansaram-No tanto, que naquele momento de fraqueza divina , quase humano , chamou-me e disse: “Vai, Clarice. Dou a você um sopro de vida para que realize a descoberta do mundo. Crie laços de família e conheça a felicidade – clandestina ou não. Defenda-se da legião estrangeira que ameaçar seu coração selvagem ; faça da visão do esplendor ,que certamente terá, a sua aprendizagem. Transforme suas lágrimas em água viva quando tiver de escolher entre a bela e a fera. Não se deixe tombar pela paixão, segundo o gênero humano, para que eu não antecipe sua hora de estrela e precise trazê-la para brilhar perto de mim”.
Agora, estou em suas mãos; eu, objeto gritante de Deus a clamar: Não posso acabar! Preciso de uma garantia de mais dez anos. Tenho medo de ter um fim trágico. Sinto necessidade de arriscar-me ainda mais. Protege meu gol, Deus! Não me obrigue a interromper este dia: hoje. Onde estivestes esta noite?
Acabo de perder a visão do esplendor queVos cansará mais e mais, enquanto em Vós,oh Deus, o homem ainda estiver ausente.
Ganhou e perdeu muitas vezes; foi forte e foi fraco em tempos de guerra e de paz. O dia em que me procurou, revelava tristeza, cansaço, descrédito até, e falou-me com voz quase de ancião: “Cuida do mundo, enquanto eu sumo um pouco”. E me soprou a vida dos vivos da Terra.
Cheguei sem saber muito bem onde estava, com quem contaria. Ouvi falar em mãe, pai, família – laços de família – e com eles e neles emaranhei-me em carinhos, encantos, tristezas também. Ninguém entendeu-me o temperamento forte, a ânsia de saber, o desejo de pertencer, o não conseguir parar, ter limites, ver barreiras. “Menina esquisita, menina inquieta ,não pára em um lugar, se mete em conversas. Moça difícil; inteligente, mas complicada, antipática, um tanto desajustada. Mulher deprimida, incompreensível, cansada, zangada”. Era mais ou menos assim o que eu ouvia dos que não sabiam que “ sou uma pessoa muito ocupada. Eu tomo conta do mundo. Eu já nasci incumbida”.
Não sei se cumpri meu papel durante o tempo em que, em carne, ossos, músculos e nervos, Ele me deixou entre os humanos; procurei fazê-los entender sua condição, enquanto tentava entender-me, escrevendo, escrevendo, escrevendo. Penso que me saí bem, melhor do que Ele esperara, pois o ameacei, acredito, e ele mandou-me buscar de volta por quem me havia trazido : as dores- do parto e do câncer. Cumpri a missão, deixei um legado e, através da palavra que mais escrevi do que falei, ainda vivo no mundo dos vivos, nem santa nem deusa, mas gente que entende de gente que vive, que sofre, se alegra, duvida, acredita e que morre; que consegue, numa só, ser muitas, por ser humana e mortal.
Ele me chamou de volta antes do tempo devido, acreditam os leitores da espécie de bíblia que ousei escrever.
Desculpo-O e peço ,por Ele ,desculpas ao mundo, pois Nele o homem ainda ausente, impediu o Deus de agir, de viver, de sentir-se à beira de ,vislumbrando e aceitando o que é belo , o que é novo. O velho, o morno e o medo cansaram-No tanto, que naquele momento de fraqueza divina , quase humano , chamou-me e disse: “Vai, Clarice. Dou a você um sopro de vida para que realize a descoberta do mundo. Crie laços de família e conheça a felicidade – clandestina ou não. Defenda-se da legião estrangeira que ameaçar seu coração selvagem ; faça da visão do esplendor ,que certamente terá, a sua aprendizagem. Transforme suas lágrimas em água viva quando tiver de escolher entre a bela e a fera. Não se deixe tombar pela paixão, segundo o gênero humano, para que eu não antecipe sua hora de estrela e precise trazê-la para brilhar perto de mim”.
Agora, estou em suas mãos; eu, objeto gritante de Deus a clamar: Não posso acabar! Preciso de uma garantia de mais dez anos. Tenho medo de ter um fim trágico. Sinto necessidade de arriscar-me ainda mais. Protege meu gol, Deus! Não me obrigue a interromper este dia: hoje. Onde estivestes esta noite?
Acabo de perder a visão do esplendor queVos cansará mais e mais, enquanto em Vós,oh Deus, o homem ainda estiver ausente.
Luiza Lagoas.
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