Que calor é esse?
Vem da camada de ozônio
que me assombra em anos 90?
Ou da bagunça do hormônio
entre os 40 e 60?
Arde a barriga por fora
queimada em praia escaldante.
Arde a barriga por dentro
num movimento pulsante.
Queima o rosto protegido
com filtro anti-carmim
do clarão do dia quente.
De noite... com Premarim.
Esquentada em dose dupla
neste singular Verão,
eu esperneio sozinha
ou em qualquer relação.
De princesa a rainha,
tremendo de febre, medo,
seguro meu novo cetro
de força, amor, segredo...
De onde vem este calor?
– É sopro quente divino,
de dia: Deus-Homem-Sol
de noite: Deus Feminino.
Tenho mais que celebrá-lo,
mas mantendo as mãos na rédea,
dançando em lindas fogueiras,
sou mulher DE Idade Média.
Com esses versos digo adeus aos meus hormônios. Não sentirei saudade; eles criaram encrencas durante o longo tempo que habitaram em mim. Impediram-me de ir à praia e afastaram namorados naqueles seus dias de festa; mudaram para maior o número dos meus soutiens, atrapalharam viagens. Enfim, fizeram-se presentes tantos anos, como se o meu destino dependesse deles. Por outro lado, agradeço algumas de suas prendas: transformaram-me em mulher, me ensinaram a ter desejos,fizeram-me vaidosa, permitiram-me o batom, unhas pintadas, salto alto, o Fusquinha.
De minha parte, dei-lhes abrigo melhor que muita gente: não deixei que deprimissem por falta de movimento, pois enquanto convivemos nunca parei de dançar, nem deixei que me doessem. Conservei-os sempre sadios, longe do gosto amargo daqueles “atroverans”.
Que eles não se iludam, porém, com a idéia de abrigar seus amigos e até mesmo descendentes nas vagas que foram suas; não farei reposição. Já tivemos nosso tempo, nossas brigas, alegrias e, sei que há gente nova por aí, esperando por eles. Sei que gostaram de mim, que temem sentir saudades, que temem não mais viver com alguém que, como eu, os diverti.
Mas não vou me comover, pois a seu tempo, vão me chorar e esquecer.
Luiza Lagôas
Como pode ser tão poético para você,um calor tão insuportável para mim?
ResponderExcluirMeus hormônios nunca terão saudades de mim. Eu é que vivo correndo, repondo,implorando: não me deixem... não me deixem...