Mas que defeito infeliz,
Saber-me assim nunca quis.
Coube-me ser imperfeito,
Sem notar este meu jeito.
Ter quatro olhos, todos meus,
Não é o que pedi a Deus.
Junto aos dois olhos normais,
Aqueles que todos têm,
Eu tenho mais dois que vêem.
Meus olhos não são rivais,
Não se queixaram jamais.
Cada qual com sua função,
Trabalham se dando a mão.
Quando de algo me dou conta,
Seja coisa, bicho ou gente,
Logo um olho vem na frente.
Mal vendo ligeiro aponta,
Uma crítica ou afronta.
Feroz, esperto e mordaz,
De um tudo ele é capaz.
Os olhos comuns então,
Observam com mais cuidado,
Cada canto e cada lado.
Quase pedindo perdão,
Utilizam da razão.
Separam o joio do trigo,
Isolam o rival do amigo.
Aí o quarto olho oculto,
Que é o olho de sentir,
Passa a poder me servir.
Sentimentos tomam vulto,
Paixões provocam tumulto.
Amo a coisa, bicho ou gente,
Ou odeio profundamente.
Sonia Soares
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